Por: Fábio Fabrício Fabretti
Há imagens que criam tanta vida e nos causam buracos, cavernas, calabouços, rachaduras e avalanches, durante nossas simples caminhadas. Também podam asas, amputam pernas, decepam cabeças e arrancam corações. Então, sem andar, sem voar, sem pensar e sem sentir, corremos o grave risco de sermos engolidos pelas profundas gargantas famintas de quem somos ou podemos ser, fazendo-nos desabar em si e no abismo sem fim, até aprisionados em jaulas com grades de ossos.
É o caso da cena do filme "Sete Dias com Marylin", inspirado numa história real, quando, a partir da minutagem 37:44, Marilyn Monroe, já em fase final do seu casamento com o roteirista Arthur Miller, rouba os manuscritos do filme que ele escrevia para ela, chamado ‘Os Desajustados’, e acaba se confrontando com o poço seco e a fossa de esgoto de quem realmente é ou de como é vista. Seu desespero é tão ou mais devastador que a sua descoberta, principalmente durante o processo da queda, mais baqueante do que a chegada ao fundo. Ser é um pouco de doer.