Espetáculo "Quarança" denuncia a violência contra a mulher A Próxima Companhia estreou a fábula dramatúrgica "Quarança", que denuncia a violência contra as mulheres, que vai até dia 21 de Maio, em São Paulo. Foto: Adriana Nogueira Estreou no dia 31 de março a nova produção d'A Próxima Companhia, o espetáculo "Quarança", no espaço cultural próprio da cia. teatral, na zona oeste de São Paulo. O espetáculo, fruto de uma parceria com a Unaluna - Pesquisa e Criação, propõe uma reflexão sobre a violência contra a mulher. A palavra "quarança" vem do verbo "quarar a roupa", do regionalismo brasileiro, que significa clarear a roupa pela exposição à luz do sol. Da mesma forma, o espetáculo "Quarança" expõe à luz do teatro questões referentes à opressão feminina em nossa sociedade, tais como o estupro, o feminicídio, a pedofilia e o controle do macho sobre a mulher, seja ela criança, adulta ou idosa. Tais questões são estendidas à luz de "Quarança". "Quarança" é uma fábula dramatúrgica que conta a história de Alereda, uma cidade fictícia onde o sol é insistente e a terra, esturricada. Alereda é feita de caminhos estreitos, uma trama de vida e morte. Ocupada por um exército de jagunços, liderados pelo temido Sô Déo, o lugarejo tem suas mulheres violentadas, mortas e, uma a uma, quaradas ao sol, veladas sem lua, extintas, carbonizando o chão. Neste contexto surge a guerreira Rosa Ararim, que se posiciona contra este estado falocêntrico de opressão. Luciana Lyra assina dramaturgia, encenação e direção e a peça traz à cena as atrizes Juliana Oliveira e Paula Praia, d'A Próxima Companhia e a atriz convidada Lívia Lisbôa. O processo de pesquisa da companhia iniciou-se em 2014, mesclando vivências pessoais das atrizes-criadoras e da diretora com referências externas, como filmes, livros, artigos, espetáculos, palestras, documentários etc. Uma das ferramentas que a companhia utilizou para aproximar os mitos pesquisados da realidade vivida foi o levantamento de depoimentos de mulheres comuns. Relatos de familiares e amigas, histórias de notícias de jornal, fábulas urbanas etc. "A partir de nossas experiências pessoais, queremos ampliar o debate sobre a opressão contra as mulheres. E não pretendemos trazer uma versão da mulher somente como vítima, e sim, como ser histórico - sujeito e objeto destas situações -, trazendo à tona histórias de mulheres comuns, afinal, o universo pessoal também é político", conta a atriz-criadora d'A Próxima Companhia Juliana Oliveira. Entre os filmes assistidos, um em especial chamou a atenção da companhia: o documentário sobre a vida de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, conhecida como o "Anjo de Hamburgo", uma figura praticamente desconhecida. Uma mulher como outra qualquer (divorciada do primeiro marido, com um filho, que trabalhou para sobreviver, que escrevia diários e mandava cartas de amor), mas que teve feitos heroicos. Poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty na Alemanha nazista, Aracy teve um importante papel ao livrar da morte aproximadamente uma centena de judeus, concedendo-lhes vistos para o Brasil. Segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa, há uma hipótese de que a personagem ícone de Grande Sertão: Veredas (obra que o autor dedica à Aracy), a guerreira Diadorim, tenha sido inspirada em Aracy, fato que também serviu de inspiração ao coletivo feminino criador de "Quarança". "Em pleno século XXI, basta abrir o jornal para vermos ainda hoje meninas de 10 anos (ou menos) sendo obrigadas a casar por acertos de suas famílias, desigualdade gritante de salários, estupros e culpabilização das vítimas, mortes por abortos clandestinos, a obrigatoriedade de abrir mão de sonhos para ser uma 'esposa perfeita' ou mãe muito jovem, violência física, moral e verbal. A sociedade em que vivemos ainda acha bastante indigesto ser comandada por uma mulher, seja no plano familiar, empresarial ou político", conta a atriz Paula Praia. "Estes fatos que nos assolam todos os dias se tornaram um caldeirão muito rico de material para nos posicionarmos política e artisticamente. Estas histórias perpassam nossas vidas também, embora não tenhamos sido as protagonistas de todas elas. Quando percebemos isso, ficou impossível não nos posicionarmos. Nós três, atrizes d'A Próxima Companhia, escolhemos o teatro para este posicionamento. Ou melhor, temos a obrigação de fazê-lo", conclui. Além das apresentações no Espaço Cultural A Próxima Companhia até 21 de maio, "Quarança" também vai circular por diversos espaços culturais independentes da cidade de São Paulo. O projeto, aprovado pelo Prêmio Zé Renato 2016 - 4ª edição, é uma parceria entre A Próxima Companhia e a Unaluna - Pesquisa e Criação. Sobre A Próxima Companhia: Núcleo artístico da Cooperativa Paulista de Teatro, A Próxima Companhia foi constituída a partir da união de artistas egressos do Clã - Estúdio das Artes Cômicas que, após cinco anos de trabalho conjunto (2009 - 2013), em 2014 optaram por ter seu núcleo artístico constituído. O grupo tem sua criação cênica e método de pesquisa com foco nas questões da memória, no trabalho do intérprete e sua relação com o público. Propostas de treinamento são trazidas pelos próprios integrantes e artistas colaboradores convidados, privilegiando técnicas e dinâmicas de improviso, valorizando o jogo entre os atores e as tradições do teatro popular e a linguagem das máscaras e do circo. A Próxima Companhia vale-se ainda de técnicas extra teatrais como recurso para potencializar o discurso cênico (meditação ativa, danças circulares, ateliê de canto etc.). Também são parte da preocupação do grupo o trabalho de investigação teatral e a troca de conhecimentos com o público. Para tanto, também são realizadas atividades lúdico-teatrais (intervenções urbanas, performances, contações de história) e de formação, ministradas a diferentes públicos pelos integrantes da companhia que também possuem formação como arte-educadores (cursos de iniciação à técnica do palhaço, improvisação para a cena, iniciação teatral, formação de educadores, confecção e uso das máscaras teatrais etc.). Como forma de potencializar suas ações artístico-culturais o grupo mantém um espaço cultural no bairro Campos Elíseos em São Paulo/SP. Sobre a UNALUNA: Associada à Cooperativa paulista de Teatro, desde 2007, a UNALUNA configura-se enquanto de investigação, que congrega coletivos, grupos artísticos, e mesmo, artistas autônomos que intentam trabalhar a partir dos procedimentos da Mitodologia em Arte e da Artetenografia, conceitos desenvolvidos pela atriz, performer, encenadora, dramaturga e professora Luciana Lyra, em suas pesquisas de mestrado, doutorado em Artes Cênicas (UNICAMP/SP) e pós doutorados em Antropologia (USP) e Artes Cênicas (UFRN). Na sua trajetória, UNALUNA vem desenvolvendo projetos na área de pesquisa, criação, produção e formação artísticas, assim como projetos pedagógicos em arte, significando-se como um espaço de germinação, cultivo e florescimento do templo jardim que é a arte e seus artífices. Das pesquisas artetnográficas e mitodológicas, foram criados os espetáculos Joana In Cárcere (UNICAMP-2005), Calunga (Funcultura-PE-2006), Conto (Prêmio de Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura da Cidade do Recife-2007), Guerreiras (Funcultura-PE-2008/Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro-2009/Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua-2009), Homens e Caranguejos (Prêmio de montagem de espetáculo inédito no Estado de São Paulo, ProAC -SEC-SP-2011/ Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro- circulação 2012), Salema- Sussurros dos Afogados (ELT-2012), Obscena, Fogo de Monturo e Cara da Mãe (2015), Quarança (2017). O estúdio também produziu os livros Guerreiras; texto teatral e trilha sonora original, com subsídio do Funcultura Pernambuco, em 2010, e De como meninas guerreiras contaram heroínas, contemplado com a Bolsa de Criação Literária da Funarte, o Prêmio de Publicação de livros ProAC no Estado de São Paulo e o Funcultura-PE, entre 2009 e 2013. Em 2011, Luciana Lyra, fundadora de UNALUNA , recebeu o Prêmio de Texto Inédito de Dramaturgia também pelo ProAC, com o texto LUNIK (2012) e com o texto JOSEPHINA (2017) Ficha Técnica: Dramaturgia, Encenação e Direção: Luciana LyraAssistente de Direção: Stella GarciaAtrizes-Criadoras: Juliana Oliveira, Lívia Lisbôa e Paula PraiaVozes em off: Caio Marinho, Gabriel Küster, Kerson Formis, Márcio Marconato (Jagunçaria); Walter Breda (Sô Déo)Direção Musical: Alessandra LeãoProdução Musical: Missionário JoséCenário e figurinos: Marco LimaIluminação: Ari NagôPreparação corporal: Gabriel KüsterPreparação para manipulação de bonecos: Júnior SiqueiraCostureira: Zezé de CastroCenotécnico: Zé Valdir AlbuquerqueFotos e vídeo: Adriana NogueiraDesign gráfico: Rafael VictorAssessoria de Imprensa: Marcelo Dalla Pria – Rhizome ComunicaçõesProdução: A Próxima Companhia e Radar Cultural Gestão e ProjetosDireção de Produção: Caio Franzolin e Solange BorelliNúcleo Artístico A Próxima Companhia: Caio Franzolin, Caio Marinho, Gabriel Küster, Juliana Oliveira e Paula Praia.Atriz colaboradora no processo de criação: Julia PiresRealização: A Próxima Companhia e Unaluna – Pesquisa e Criação em Arte Serviço: Espetáculo "Quarança"d'A Próxima CompanhiaEstreia: 31 de março de 2017Temporada de 1º de abril a 21 de maio, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h.Duração: 90 minutosIngressos: R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)ESPAÇO CULTURAL A PRÓXIMA COMPANHIA: Rua Barão de Campinas, 529, Campos Elíseos, Próximo à Estação Santa Cecília do Metrô.Capacidade do espaço: 60 lugaresClassificação etária: 14 anosTel.: (11) 3331-0653 Ei, que tal ter uma conta global 100% digital e sem taxa de abertura? 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