Ator Angelo Santoro reinventa-se mais uma vez

Angelo Santoro é ator, escritor, roteirista, participa de vários planejamentos educativos e culturais junto às diversas comunidades cariocas, como também dirige numerosos projetos na internet que, ao mesmo tempo, divertem e surpreendem o público em geral. Dentre os inúmeros planejamentos, o "Projeto Taxi 69" já alcançou a marca de mais de trinta mil telespectadores, tendo inclusive, feito parte do elenco da 2ª temporada da série Impuros, na pele do personagem "Tamanduá", lançada pelo canal Fox Premium.

Em tempos tão difíceis, em que qualquer projeto cultural em nosso país não está recebendo incentivos, combinado com o temor provocado pelo Corona Vírus, Angelo Santoro teve a iniciativa de nos recompensar com mais um trabalho fabuloso denominado "A lenda dos Orixás". E, nesta entrevista, ele resolveu contar para os nossos seguidores um pouco mais sobre seu mais recente trabalho.

"'A lenda dos Orixás' é um sonho audacioso. Fui iniciado no candomblé Jeje Mahin no terreiro de Rumkpame Jejinan, como filho de Oya, através da "Gayaku" Isabel de Osún em 2008. Em princípio, pensávamos em realizá-lo em forma de minissérie, mas o custo seria muito elevado e a captação de recursos seria muito difícil neste nosso contexto de crise econômica. Estou guardando o isolamento social, não podemos ser negacionistas diante do crescimento do número de indivíduos infectados pelo Corona vírus", conta Angelo. "Por este motivo, todos os nossos projetos, que já se encontravam em andamento, precisaram ser suspensos. Apesar do confinamento, minha alma artística clamava: é preciso ter fé, acalmar os ânimos. Como eu faço terapia, ela também acabou contribuindo para o seguinte questionamento: "como romper barreiras?". Desta forma percebi que a arte não se limita a uma "mega produção", nem mesmo precisa estar relacionada a cor da pele para que o personagem fosse produzido, uma vez que a nossa sociedade é fruto da miscigenação e da interação religiosa. Um dos fatores que me levaram produzir sobre o tema das religiões de matrizes africanas, decorre do fato das mesmas ainda serem objeto de profundo preconceito e tabu na nossa sociedade. Infelizmente, a sociedade brasileira que é fruto da "colonização" ocidental-europeia-cristã sempre "demonizou" a religião praticada pelos africanos e pelos afrodescendentes". Vamos saber mais!

GSVIP - Angelo, você vive o personagem Exu, no 1º episódio da série. Você sofreu alguma crítica sobre o personagem relacionado ou não a um demônio? E como você entende a interpretação religiosa sobre o fato de você viver um personagem negro com um perfil genético mais europeu?

Angelo Santoro - Excelente pergunta. Então, Exú, para mim, não é um demônio. Aprendi, no decorrer da minha vida, que o equilíbrio é duo: existe o bem e o mal. Logo, coisas ruins precisam acontecer para que haja equilíbrio. Tanto que todos nós podemos nos comportar bem ou mal, de acordo com a nossa consciência, e isso não faz de nós demônios. E o fato de a entidade Exu ser oriunda de matriz africana em nada impede que eu possa personificá-lo. Antes de tudo, eu sou um ator. Eu não posso admitir que o preconceito me impeça de atuar. A mais importante lição que construí apartir de todo esse projeto "A Lenda" é que precisamos, antes de julgarmos os outros, revisitar internamente nossos próprios preconceitos.

GSVIP - O projeto reescreve lendas já conhecidas? Conta um pouquinho pra gente sobre o roteiro.

A S - O projeto reescreve muitas das lendas já conhecidas apartir de uma nova interpretação de como teria ocorrido a criação do mundo. Há uma similitude entre todas as religiões – o mundo não surgiu e pronto! Quem é religioso acredita que exista um Ser Superior e, à partir disto, lhes dão o nome que querem: Deus, Jeová, Alá, Shiva ou Oxalá. Então, não será difícil se fazer uma comparação entre as origens de cada religião, já que tenho muitas bases religiosas em meu meio social.

GSVIP - Você poderia nos dar um exemplo comparativo?

A S - Sim, a passagem de Moisés na Bíblia lembra muito parte da lenda de Omolu. (Momento que Moises é colocado no Rio e acaba sendo criado por outra mãe em uma outra realidade).

GSVIP - Que estrutura você tem usado para as filmagens neste momento que o país vive este processo de isolamento?

A S - Eu montei um estúdio caseiro em meu quarto, pintei tudo de azul e estou filmando através de um celular e meu cameraman tem sido meu amigo e companheiro, Alessandro Veras.

GSVIP - Angelo, por que você acha que as pessoas deveriam assistir seu projeto?

A S – "A Lenda" é um projeto resultado de muitos anos de dedicação e estudo. A arte é muito pulsante e amo muito fazer, mas tenho certeza que, mesmo com uma tecnologia mais simples, estou contribuindo com a arte e a cultura com um bom trabalho.

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