Por que a morte de famosos mexe tanto com a gente?

Por que a morte de famosos mexe tanto com a gente?

​O ​Dr. Junior Silva, Psicanalista e especialista nesse assunto, conta como superar o luto e o que podemos aprender nessa fase

Estamos vivendo um momento átipico em nossas vidas. Por conta da COVID-19, algumas pessoas estão perdendo amigos e familiares, é quase impossível não conhecer alguém que tem uma história para contar sobre essa doença.

 

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Na noite da última quarta-feira, 4 de maio, o ator e humorista Paulo Gustavo, faleceu, aos 42 anos, vítima de Covid-19. Muitas pessoas, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, ficaram emocionadas e sofreram com a morte dele. Nas redes sociais haviam muitas homenagens e mensagens, realmente houve uma comoção nacional.

Em conversa com o Dr. Junior Silva, Psicanalista, Hipnólogo e Coach, buscamos entender mais o motivo pelo qual a morte de celebridades mexe tanto com as pessoas. Ele também explicou sobre o luto e deu algumas dicas valiosas de como passar por esse período.


Gente de Sucesso VIP: O que é o luto?
Dr. Junior Silva: O luto é um conjunto de sentimentos de uma perda significativa, que pode ser gerada por uma morte ou qualquer situação que temos a certeza é irreversível, ou seja, não temos mais o que fazer ou viver com aquela pessoa ou situação.

GSVIP: Por que o luto é importante?
Dr. JS: Viver o luto é organizar nossos sentimentos, é encerrar uma etapa da vida e recomeçar com outra que não podemos mudar. Quando reprimimos, corremos o risco de trazer consequências emocionais lá na frente, pois o que não é resolvido um dia, nossa mente vai cobrar. ​Eu a​tendo uma paciente dos Estados Unidos que não conseguiu viver o luto da perda da mãe, houve negação e, devido a distância, não conseguiu chegar a tempo para se despedir e vivenciar aquele encerramento de ciclo. Essa negação do luto trouxe consequências físicas nela, ou seja, tinha dores psicossomáticas que tinham raiz emocional, onde a maioria dos sintomas era o que a mãe tinha na luta pelo câncer. Quando ela vivenciou o luto e se reconciliou com seus sentimentos​ e a ​perda​,​ suas dores desapareceram.

GSVIP: Como podemos passar pelo luto com mais facilidade?
Dr. JS: A dificuldade de viver o luto acontece muito quando nos sentimos em dívida com quem nos deixou. Por exemplo, não fiz isso, não disse aquilo e agora não posso mais. Vivenciar com mais facilidade é reconhecer o quanto foi importante o outro em nossa vida e que tudo que vivenciamos de positivo ou negativo se tornará daqui para frente um legado de vida e não de destruição. Dependendo das dívidas que temos e como lidamos, precisamos às vezes de um auxílio profissional.

GSVIP: O que podemos aprender com o luto?
Dr. JS: Podemos aprender com luto que tudo tem o fim e que precisamos vivenciar o hoje como se fosse o último dia! O luto bem vivido nos traz o reconhecimento da importância e o que outro deixou de especial, pois o que perdemos pode não estar mais presente no dia a dia, mas estará no coração para o resto da vida.

GSVIP: Por que a morte de famosos mexe com as pessoas? Por que ficamos tristes e abalados com a perda de uma pessoa que não conhecemos pessoalmente?
Dr. JS: Quando perdemos um familiar, perdemos alguém que gerou diferentes sentimentos, como, por exemplo, felicidade, mágoas, tristezas, alegrias. É um conjunto de sentimentos e ações que fomos convivendo ao longo da vida. O que não acontece quando perdemos uma celebridade. A celebridade nos inspira, nos transmite alegria, fé e momentos divertidos. Ao perder uma pessoa famosa que admiramos, perdemos alguém que fala o que não falamos, faz o que não conseguimos, devolve o riso, a inspiração, devolve a esperança que não vemos em nós. O Paulo Gustavo foi um pessoal incrível e um profissional maravilhoso. Ele transmitia fé e esperança não só nos seus papéis, mas também na sua essência. Nunca estamos preparados para as perdas, e principalmente a morte de pessoas nos inspiram a ser melhor, nos divertem e nos dão esperança de uma vida melhor e mais leve.

GSVIP: Por que não estamos preparados para a morte?
Dr. JS: Porque não fomos ensinados a perder, não gostamos da perda, é muito cultural. Por exemplo, um país pequeno chamado Butão é considerado o país mais feliz do mundo e como eles lidam com a morte? Eles não veem a morte como fim, mas como uma passagem para uma nova vida onde a pessoa tem o direito de viver o novo. Eles fazem algumas reuniões pós morte para relembrar o legado, o bem que esta pessoa construiu, tendo consciência que se fez o melhor sem dívida um com outro.

 

"Uma coisa muito importante: o luto não é o fim, mas o começo de um novo tempo de alguém ou de algo que nos ajudou a ser o que somos hoje! Como Padre Marcelo Rossi sempre diz: Saudade sim, tristeza não", concluí Dr. Junior.

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